Comunicado às associadas Abong

Prezados e prezadas,

Nós da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) estamos há 30 anos engajados na luta antirracista e apoiando organizações dos movimentos negros, além de contribuir para a criação de políticas nas Organizações da Sociedade Civil brasileiras (OSCs), de defesa de direitos sociais. Para reafirmar as políticas antirracistas no mês da Consciência Negra, para este ano, convidamos as nossas associadas a assumir este compromisso na luta contra o racismo nas nossas instituições. 

Um passo importante foi a construção da Cartilha de Combate ao Racismo Institucional, desenvolvida em parceria com a Ação EducativaAssociação Civil que atua nos campos da educação, da cultura e da juventude, na perspectiva dos direitos humanos. Esse material aponta caminhos de como lutar identificar, caracterizar e destruir as várias formas de racismo institucional que, de maneira insidiosa, contaminam instituições e assim, construir um ambiente seguro para os e as profissionais negros e negras de nosso campo.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,10% da população brasileira se declara preta ou pardo, no entanto, as configurações raciais do mercado de trabalho demonstram que 66,6% dos cargos gerenciais são ocupados por brancos e apenas 29,9% por pretos (as) e pardos (as). Além disso, mesmo sendo maioria no Brasil, as pessoas negras representam apenas 27,7% das pessoas com os maiores rendimentos, no entanto, no grupo com os menores rendimentos, representam 75,2% dos indivíduos. Para melhor análise dessas disparidades, também é importante abordar a relação entre escolaridade e renda, a partir de critérios raciais. Os dados demonstram que a remuneração dos (as) negros (as) que não possuem graduação é 88% inferior à recebida por pessoas brancas que apresentam a mesma condição. Já os negros e negras que possuem nível superior recebem 96% da remuneração média dos brancos e brancas com nível superior.

Trazendo para a realidade das ONGs, nós apuramos, por meio de amplo estudo, que deu origem à pesquisa  Quantos Somos, que 46,14% das pessoas que atuam em ONGs e associações da sociedade civil são negras e pardas. Quando observados a remuneração, os cargos ocupados por elas e as perspectivas de ascensão profissional, os dados indicam discrepâncias alarmantes. Em 2019, as pessoas negras ganharam em média 27,07% menos que as pessoas brancas. Pessoas pretas e pardas são a maioria em funções que exigem menor grau de escolaridade, o que indica maior dificuldade de ascensão profissional e, por consequência, tempo de permanência em uma mesma instituição.

Esta pesquisa, sistematiza informações quantitativas que relacionam recortes geográficos, individuais e de vínculos empregatícios nas ONGs e foi construído a partir de uma leitura interseccional de distintos eixos de subalternização, como raça, idade e gênero. Além da referência de raça, o estudo levou em consideração outras questões individuais, como gênero e idade. Em termos de vínculos empregatícios, utilizou dados como faixa remuneratória e função/ocupação.

Nós da Abong temos a luta antirracista como eixo estruturante, por isso, além da construção da cartilha e da pesquisa, estamos executando ações e nos posicionando, cada vez mais, no cumprimento e na implementação de práticas internas no combate ao racismo institucional, ao machismo e ao sexismo, ao etarismo, à lgbtqifobia e contra toda forma de discriminação e exclusão e queremos ampliar esta discussão no campo das organizações da sociedade civil.

Veja algumas de nossas ações:

  • Incluímos em nosso Regimento interno paridade racial, de gênero e LGBTQIA+ – O Conselho Diretor da Abong decidiu por unanimidade a representatividade proporcional para representações raciais, geracionais, de orientaçã/identidade sexual/gênero em todos os espaços da instituição. Este feito aconteceu em março deste ano. Além disso, nós assumimos o compromisso de não participar de eventos, mesas, reuniões, lives e debates onde não se tem pessoas negras presentes.
  • No final de 2020, em parceria com a Prefeitura de São Paulo (SP), realizamos a formação “Como combater o racismo institucional nas OSCs“. Na ocasião, foram apresentadas propostas de Plano e Ações Antirracistas em uma aula aberta via Youtube.
  • Em julho deste ano, organizamos um debate com vozes potentes sobre outras formas de viver em sociedade que mulheres negras, indígenas, latino-americanas e caribenhas propuseram. A Ação foi realizada no Julho das Pretas.

Reconhecemos que, as organizações da sociedade civil, ainda que comprometidas no combate às desigualdades estruturais da sociedade brasileira, não estão isentas de reproduzirem práticas discriminatórias, como as exclusões de raça e gênero, em seus espaços profissionais. Para superarmos este desafio, precisamos começar a mudar esta realidade e entender que o racismo institucional ocasiona não apenas a falta e/ou a precariedade de acesso aos serviços e direitos, mas, ao mesmo tempo, a perpetuação estruturante de desigualdades raciais e de gênero em nossa sociedade.

Aproveitamos para te convidar a acompanhar as ações que preparamos até o dia 30/11, que propõem uma reflexão com caminhos para enfrentar o racismo institucional nas organizações, além de te ajudar a refletir sobre como o racismo se reflete dentro da sua organização.

Acompanhe a programação nas redes sociais da Abong, via Facebook, Instagram e Youtube.