Carta do Comitê Brasileiro de Solidariedade com o Povo da Nicarágua

 

Brasil, 23 de janeiro de 2023.

Ilmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente República Federativa do Brasil
Brasília, DF

Vimos, por meio desta, expressar nossa satisfação pela importante vitória da Democracia para o Brasil e para América Latina com a celebração de eleições livres e justas, mesmo no contexto de grande polarização, violência política e ameaças contra o sistema eleitoral. A sua posse como Presidente é resultado da vontade do povo brasileiro, legitimamente expressada nas urnas.

   O seu antecessor conduziu uma política externa que prejudicou os Direitos Humanos. Ele criticou abusos em alguns países por interesses ideológicos, mas ignorou abusos em outros. Temos certeza que o seu governo irá marcar uma diferença clara em relação a essa prática, adotando uma política externa que fortaleça a defesa dos Direitos Humanos, como dita a Constituição brasileira, e a defesa da Democracia na região.

   É justamente a partir de nossa atuação enquanto pessoas e organizações comprometidas com a Democracia e os Direitos Humanos, que o Comitê Brasileiro de Solidariedade com o povo da Nicarágua, conjuntamente com organizações brasileiras que compartilham essas lutas, vem solicitar para que seu novo governo leve em consideração a alarmante situação que vive a Nicarágua e apresente uma posição clara e coerente. Neste momento, o Brasil pode ser uma voz ativa na busca por caminhos que permitam que o país respeite os Direitos Humanos e recupere a rota democrática.

   Nas entrevistas e debates, o Senhor argumentou que é papel dos nicaraguenses, com seus recursos e sua autonomia, buscar construir o melhor para a Nicarágua. No entanto, é importante lembrar que aqueles que tentaram fazer isso estão presos, ameaçados ou refugiados. As duas tentativas de diálogo, em 2018 e 2019, foram abortadas pelo não cumprimento do governo dos acordos firmados. Milhares de nicaraguenses fogem da crise política, econômica e social, tomados pelo medo e pela desesperança; entretanto, pelo caráter periférico do país na geopolítica, permanecem invisibilizados e silenciados. É por isso que buscamos aliados que possam ao menos lançar luz sobre os conflitos que os nicaraguenses enfrentam, para encontrarmos força e solidariedade no caminho de recuperação da democracia na Nicarágua.

   Diversas organizações nicaraguenses e internacionais, promotoras de Direitos Humanos, governos e organismos multilaterais, vêm denunciando a escalada repressiva e autoritária do governo atual, pedindo a liberdade das mais de 230 pessoas presas políticas, sem que nenhuma das demandas tenha sido atendida. Uma questão da máxima urgência diz respeito às condições desumanas das presas e presos políticos, cujas vidas estão em perigo, como ilustra o caso do excomandante guerrilheiro Hugo Torres, de 73 anos, ícone da Revolução Popular Sandinista, quem faleceu no ano passado sendo um prisioneiro político. Acreditamos que a crise da Nicarágua não vai se resolver com soluções simplistas no campo ideológico. O povo nicaraguense não quer mais violência, não quer mais mortes, quer viver em paz e em democracia.

   Sendo assim, recorremos ao novo governo brasileiro para que aponte uma posição clara sobre as violações aos Direitos Humanos na Nicarágua, para que se some às denúncias e condenações que vêm sendo feitas nos foros internacionais, como o Sistema das Nações Unidas e para que estimule a criação de canais de mediação e negociação para a liberação dos prisioneiros políticos e o respeito aos Direitos Humanos no país centro-americano.

   Nós, nicaraguenses e brasileiros, que integramos este comitê, compartilhamos a esperança de milhões de pessoas de que seu governo volte a colocar os Direitos Humanos no centro da política externa ativa e altiva.

   Desejamos um ótimo trabalho para o senhor e todos os integrantes do seu governo e reafirmamos nossa expectativa de que será coerente e firme na defesa da Democracia, do direito à participação e ao dissentimento, dos padrões internacionais de Direitos Humanos.

         Atenciosamente,

Comitê Brasileiro de Solidariedade com o povo da Nicarágua
E-mail: solidariedadenicaragua@gmail.com
Site
Facebook
Youtube

Adesão de Organizações e Coletivos:
Associação Brasileira Organizações Não Governamentais, ABONG
Coletivo RJ-Memória, Verdade, Justiça e Reparação (MVJR)
Coletivo Fernando Santa Cruz- Coletivo MVJR
Coletivo Testemunho Ação
Human Rights Watch, HRW Brasil
Juventude Operária Católica, JOC – Brasil
Movimento Justiça e Direitos Humanos
Movimento Nacional de Direitos Humanos, MNDH-Brasil
Núcleo de Direitos Humanos- PUC Rio
Plataforma de Direitos Humanos DHESCA Brasil

Cc/ Ilmo. Sr.
Mauro Vieira
Ministro das Relações Exteriores do Brasil

Ilmo Sr.
Embaixador Celso Amorim
assessor-chefe da Assessoria Especial do Presidente da República

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MESA de Articulación – Declaração Pública perante a crise na Nicarágua

Declaración Pública

La MESA de Articulación de Asociaciones Nacionales y Redes Regionales de ONG de América latina y el Caribe, se solidariza con los hermanos y hermanas de Nicaragua ante los lamentables sucesos que acontecen en ese país. La MESA manifiesta su profunda preocupación, y asume en plenitud los puntos ya planteados por la Federación Nicaragüense de ONG (FONG), haciéndolos suyos:

–          un llamado urgente a la restauración de la PAZ, solicitando al Presidente Daniel Ortega que detenga de inmediato a las fuerzas policiales que están disparando a los y las jóvenes en protesta.

–          Consideramos que en estos momentos de incertidumbre, es competencia del Gobierno:

Asegurar el orden y la integridad física de la ciudadanía, especialmente de quienes desean expresar con libertad su pensamiento, o su descontento.

  • Convocar de urgencia a un diálogo nacional para evitar el caos.
  • Asegurar los derechos humanos de la población que se está sintiendo amenazada por la desesperación de las fuerzas policiales, a través de cateos y saqueos.
  • Restaurar los derechos a protestar pacíficamente, a la libertad de prensa, libertad de expresión y de movilización.
  • Asegurar que no se repitan los errores del pasado y que las y los nicaragüenses puedan vivir en armonía, respetando sus diferencias políticas, sociales y religiosas.

Nos unimos del mismo modo al llamado que distintos actores sociales hacen para que prime la cordura, y al diálogo social y político en la resolución de las diferencias que sacuden hoy a Nicaragua.

Lunes, 23 de abril de 2018.

 

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